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Análise – qual a contribuição das nações do Golfo na luta contra o Estado Islâmico?


Por Bobby Ghosh – Texto do Defense One

Tradução, adaptação, edição e notas por Nicholle Murmel

Há muita controvérsia em torno do fato de países do Golfo Pérsico – os que mais deveriam temer as ações do Estado Islâmico (EI), rejeitarem a ideia de contribuir com suas Forças Armadas para a coalizção global proposta pelo presidente americano Barak Obama contra o grupo extremista na Síria e no Iraque. Apesar de serem membros da coalizão oficialmente, os governos declararam que prestariam apenas “assistência” militar, em vez do apoio aéreo para atacar o território ocupado pelo EI, e muito menos concordaram em enviar tropas para combater os jihadistas.

Mas o quão útil seria a contribuição dos países do Golfo? Em termos militares, não muito.

Em grande parte, esses Estados usam suas forças militares para proteger as elites dominantes e oprimir civis que se opõe à autoridade. A utilidade desses contingentes contra uma força letal como o Estado Islâmico é, no melhor dos casos, questionável.

E como são as forças militares das nações do Golfo, comparadas a outros países? Para montar seu ranking de 106 nações e seu poder militar, o portal Global Firepower usa mais de 50 critérios, não incluíndo armas nucleares. Pelo parecer deles, o país do Golfo melhor colocado é a Arábia Saudita – na 25ª posição. Isso se deve em parte à qualidade dos equipamentos militares à disposição – tudo de melhor que os petrodólares podem comprar. Por exemplo, os sauditas ocupam a 13ª posição em termos de números de aviões de ataque, e o 9º lugar em número de veículo blindados.

Ainda assim, a Arábia Saudita está apenas uma posição acima da Síria na lista geral. E, como pudemos ver, as forças de Bashar al-Assad perderam vastas partes do território para o Estado Islâmico, mesmo tendo superioridade avassaladora em termos de armamentos. É muito incerto que as forças sauditas fizessem muito melhor no lugar dos sírios.

Outros países da região figuram muito abaixo nessa lista. Os Emirados Árabes estão em 42º, o Iêmen em 45º, Omã em 69º, Quait em 74º e Qatar em 82º. Como isso acontece? Afinal, os países do Golfo Pérsico investem somas enormes do lucro com petróleo em equipamentos militares brilhando de tão novos, boa parte deles adquirida dos Estados Unidos e da Europa. A Arábia Saudita, por exemplo, é quarto país no mundo em gastos militares – o segundo maior em termos de proporção do orçamento anual investida.

Mas, como boa parte das forças militares no Golfo, os sauditas têm pouca experiência em combate. Esses contingentes mal contribuíram em missões de manutenção de paz da ONU. Apesar de o Qatar e os Emirados Árabes terem cedido aeronaves para a coalizção que estabeleceu bloqueio do tráfego aéreo sobre a Líbia em 2011, o trabalho pesado foi feito pelas Forças Aéreas da Europa e dos Estados Unidos. Mais recentemente, aeronaves dos Emirados bombardearam militantes islâmicos em Tripoli.

Ironicamente, as forças militares do Golfo com mais experiência de Guerra são as do país mais pobre, o Iêmen, onde a insurgência Houthi no norte e uma sub-divisão da al-Qaeda no leste mantém as tropas ocupadas o tempo todo.

Olhando para além das nações pérsicas, as Forças Armadas do Egito ocupam o 13º lugar no ranking do Global Firepower, o que é impressionante em um primeiro momento, até que consideramos o quanto essas tropas se debateram para conter milícias muito menores que o Estado Islâmico, além da falta geral de amramentos na região do Sinai. A Jordânia, outro país da península, está em 67º lugar na lista do portal.

Fora do mundo árabe até certo ponto, a Turquia está na 8ª posíção. Os militares turcos têm experiência em lidar com os separatistas curdos, bem como a ameaça interna de terroristas islâmicos, então a ausência de Ancara na coalisão contra o EI será dolorosa. Outra grande potência da região simplesmente não foi convidada – o Irã, 22º lugar segundo o Global Firepower.

As Forças Armadas das nações pérsicas podem não ter sido postas à prova. Mas o general John Allen, trazido de volta da reserva pelo governo Obama para comandar a coalizão contra o Estado Islâmico, ainda espera ser capaz de colocar forças aéreas árabes no pacote. Isso porque a visibilidade é importante, ainda que a participação efetiva desses países em qualquer combate seja, em boa parte, opcional.

Nota DefesaNet:

Sobre a relevância da Turquia nesse cenário, é importante frisar mais dois aspectos. Primeiro, depois de décadas de política militarista, negação do componente árabe e aproximação da Europa, o governo atual de Recep Tayyp Erdogan vem se lançando à tarefa complexa de administrar a questão curda e formular uma espécie de soft power baseado em uma política abertamente pró-Islã, porém moderada e que pode atrair simpatia do mundo árabe, especialmente como contraponto à brutalidade do Estado Islâmico. Esse poder se baseia em trocas econômicas e identificação cultural, e coloca a Turquia como proxy ideal para a ação indireta dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Outro ponto é a importância estratégica de Ancara em termos de geografia. A Península de Anatólia, que contém boa parte do país, é o que separa a Síria e o norte do Iraque do Mar Negro, onde fica a Crimeia e o limite sul da fronteira entre Rússia e Ucrânia. Já que a Convenção de Montreaux proíbe a permanência de navos de guerra estrangeiros no Mar Negro, a Turquia também seria a base ideal para operações dos EUA e da Otan, pois unifica geograficamente os dois teatros de operações que mais preocupam o governo de Obama e a organização militar do Atlântico Norte.  

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